O terreno tem a importante característica de ser bastante grande. Entretanto, toda sua dimensão estava totalmente ocupada pelo estádio quando começamos a pensar a renovação. O estádio é um lugar de muita memória afetiva para a cidade e percebeu-se que este novo projeto urbano, com o objetivo de uma completa revisão das funções e a paisagem desta parte da cidade de Nantes, não poderia excluir o estádio da condição de monumento histórico e suas instalações desportivas vizinhas.
O local é uma varanda sobre o rio Loire, na confluência do Canal de São Felix. Há, portanto, uma relação com uma vasta paisagem fora do comum.
A partir deste conjunto de problemas, o bloco seria reconstruído em torno de uma zona ampla de gramados, conservando seu caráter emblemático e abrindo-se à ampla vista que oferece a paisagem. Desta maneira, começou-se a trabalhar o espaço livre e em suas qualidades, logo rodeando o gramado por edificações nos quatro lados, e não só nas faces leste e oeste, como nos foi pedido inicialmente.
É importante recordar que o programa solicitado foi de escritórios, habitações, um instituto de estudos avançados, uma casa das ciências humanas e quartos de alojamentos temporários para os pesquisadores de todo mundo, nos arredores do antigo campo de futebol.
Todavia locou-se quase todo o programa no lado sul. Foi proposta a construção de uma espécie de tela translúcida multicolorida virada para o sul, olhando sobre o rio e a paisagem distante, mas mantendo a margem estreita do Loire. Foi uma abordagem ousada, mas justamente o que convenceu os jurados e o prefeito.
A reconstituição dos três lados do estádio em volta do gramado tratava-se de um gesto arquitetônico vital, que deu maior presença urbana no terreno.
O resultado é que fomos capazes de montar um programa maciço em apenas um pedaço de terra apropriada para a construção. Quanto às arquibancadas demolidas, pergunta-se como tudo vai se encaixar. No entanto, trabalhando a partir de uma situação aparentemente impossível, em virtude da restrição, o projeto urbano foi inserido no local usando uma estratégia arquitetônica.
O que parece claro é que a lógica de um esquema urbanístico não pode dissociar-se da definição de um enfoque arquitetônico, enquanto que na França, a maior parte do tempo, o desenho urbano é separado da arquitetura. É sabido que em um momento ou outro, o plano urbanístico encontra qualidade e intensidade dependendo da arquitetura que é ali inserida. Visto isso, pode-se formular a pergunta reversa: Que tipo de planejamento urbano pode ser trazido à existência de certo tipo de arquitetura?
Nenhum urbanista teria pensado em um edifício tão extemo como este, com mais de 150 metros de largura, com o lado mais curto com somente 2 metros de espessura, fugindo assim de uma torre de 50 metros de altura.
A aparição da torre no projeto nos levou a trabalhar com a linha do horizonte: silhuetas gráficas são erguidas em torno da geometria rigorosa do campo. O desenho livre de suas formas em corte e diferentes alturas reúne programas diversos de uma forma não usual: habitações, restaurante, casa das ciências humanas, instituto de pesquisa, biblioteca, estacionamento superior, escritórios, residências de empregados e hotel.
Esta decisão de acumular, sobrepor e mesclar todos os programas e volumes de todo o gramado do estádio cria um projeto híbrido, entre um enfoque de projeto urbanístico e a revelação de uma nova arquitetura. Pode ser visto como uma espécie de “superedifício”, um grande bloco suficiente para manter um estádio de futebol.
Desde o estádio, tem-se uma visão totalmente diferente da que existe na quadra, ou que se teria a partir da outra margem do Loire: um grande edifício monolítico que envolve um retângulo de gramado. O projeto muda a natureza e a forma com respeito ao exterior. Este dispositivo, feito em termos urbanísticos e arquitetônicos, modifica-se constantemente e enriquece as formas de percepção do bloco, seja do centro da cidade, da margem do Loire ou das arquibancadas, assistindo a uma partida de futebol. Várias sequências são possíveis, todas diferentes, em que as imagens convencionais do que se crê que seja arquitetura de uma instalação pública ou de um bloco de habitações e escritórios dissolve-se em uma desordem que pode ser atípica, porém mostra-se coerente.
As construções deste tipo podem abrigar e integrar outros serviços – centros comerciais, locais de ócio, parques e jardins – em uma diversidade arquitetônica ampla, sem chegar a ser uma das meras coleções de objetos que são vistos em esquemas de projetos para muitas cidades atuais. Assim, podemos imaginar outros “superbuildings”, monstros urbanos de um novo e generoso tipo de arquitetura.
- Fotógrafos: Stéphane Chalmeau, Philippe Ruault